sexta-feira, 29 de abril de 2011

A falsa polêmica dos cartões de crédito corporativos

Durante os anos que antecederam nossa gestão tive diversas discussões em busca de informações (como relatei na última postagem) e muitas manifestações de indignação com a forma que as coisas do clube eram tratadas.

Sei que esta postura gerou grande desgaste pessoal e não eram unanimidade nem dentro do Movimento Inter 2000, nem entre os demais integrantes da oposição.

Em muitos momentos o apelo era para "deixar assim". Mas o "chato do Miranda" não queria deixar assim. 
Os argumentos eram muitos:

  • Não é o momento adequado para questionar... (nunca era);
  • Não sejamos radicais;
  • Futebol é assim mesmo (este eu achava sensacional);
  • Certa vez um conselheiro  disse que ia às reuniões do Conselho para falar de futebol e não de contabilidade(?!);
  • Tem que "ser político" (como se "ser político" significasse negociar qualquer coisa ou evitar conflito a qualquer preço);
  • Enfim... qualquer coisa que pudesse ser dita para não dar trabalho .
Mas eu estava convencido de que o rompimento com este modelo que permitia, por exemplo, a contabilidade do clube convivendo com uma conta de "Adiantamento à Presidência"  no balanço e sendo ignorada pelo Conselho Deliberativo e pelo Conselho Fiscal, passava por um grande esforço mesmo que isto pudesse representar enorme desgaste pessoal.
Em postagem futura falarei sobre isto de forma mais detalhada e apresentarei relatório da comissão do Conselho Deliberativo que fiz parte para analisar alguns assuntos deste tipo.

Estou falando nisto, pois tenho acompanhado, pela imprensa uma "falsa polêmica" que tem sido intitulada como o assunto dos cartões de crédito corporativos.
Minha opinião é de que os tais cartões de crédito corporativo são um grande avanço na direção da transparência.

  • Um cartão de crédito, mesmo corporativo, tem um portador responsável.
  • As despesas são perfeitamente identificadas;
  • Uma nota fiscal correspondente deve acompanhar a despesa;
  • Imagino que se a despesa acontece no exterior, algum tipo de relatório deva acompanhar o comprovante para poder ser contabilizado e aprovado pela auditoria externa e Conselho Fiscal.
  • As datas, fornecedores, histórico, ficam muito fáceis de serem demonstradas.
Após a invenção da PLANILHA ELETRÔNICA (algo como o excel, se alguém não entendeu) ficou muito fácil de acabar com uma polêmica destas (na verdade antes também era, pois existia o papel quadriculado...) . É só "planilhar" as despesas  de cada um dos cartões existentes colocando nas colunas data, fornecedor, valor, histórico e anexar as notas fiscais correspondentes.

Tenho certeza que este assunto resultará encerrado com a publicação destas informações, que estão muito longe da possibilidade de serem sigilosas. Não haveria nenhuma razão prática ou estratégica para não divulgar todos estes dados de cada um dos cartões corporativos de dirigentes e/ou funcionários do clube.

Chamei de falsa polêmica esta questão, por considerar problema uma despesa que não tenha comprovação ou fique em aberto na contabilidade, sem possibilidade de contabilização e/ou responsabilização, independente das mesmas serem liquidadas por um cartão de crédito, pelo caixa ou pela emissão de um cheque.

Portanto, como já disse, considero um avanço na direção da transparência a existência de tais cartões de crédito corporativos e cumprimento à gestão atual e passada por implementarem esta ferramenta e pelo relatório que apresentarão liquidando este assunto.

Fernando Miranda

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Questionamentos da oposição e respostas

Uma das primeiras providências que adotamos ao assumir o clube foi selecionar uma empresa que procedesse uma auditoria externa de nossa gestão.
Era o mínimo que poderíamos fazer, independente da exigência legal deste procedimento que acabou surgindo mais tarde. Administrar um clube como o Internacional sem a garantia de uma auditoria externa nunca passou pela minha cabeça.


Em todos os episódios eleitorais que participei, como oposição, sempre apresentamos um rol de perguntas para a direção do clube, para podermos montar o nosso plano de gestão.
NUNCA recebi uma resposta para estes questionamentos. Mesmo que tivesssemos convocado o Conselho Deliberativo na tentativa de buscar informação.
Na verdade, só sofremos prejuízo real no ano que assumimos o clube sem conhecer a situação real. Naquele ano (1999) sofri enorme desgaste, pois pouca gente considerava importante a busca destas informações e fazia parte do plano de alguns me desgastar para que o candidato da oposição fosse alguém, como diziam naquela época, com o perfil de um magistrado. Não me arrependo de nenhuma postura que adotei na busca destas informações. E o desgaste ao qual fui submetido, na realidade, não era um problema porque eu não seria o candidato à presidência como alguns gênios da estratégia imaginavam...


Não tinha dúvida que a "então" oposição apresentaria questionamento semelhante no final do nosso mandato, com formato bastante parecido com os que fazíamos quando alguns deles representavam a situação.


Estava certo. Recebi o questionamento que reproduzo abaixo.


Imediatamente encaminhei o questionamento para a empresa Handel, Bitencourt & Cia - Auditores independentes, para que respondesse o questionamento, e se responsabilizasse pelas informações nos anos seguintes.




Esta a primeira página da resposta encaminhada à, então, oposição. O questionamento acabou não tendo a repercussão política desejada e as 30 páginas (com os anexos enviados) devem ter sido suficientes para responder os questionamentos, pois nunca mais ouvi falar do assunto.


Tenho certeza que este tratamento foi bem diferente da postura que as diretorias sempre adotaram (hoje não sei como funciona...), apesar de não me parecer "mais do que a obrigação" de quem dirige o clube.



Fernando Miranda

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Inter, C13, Ligas...

Em 2001 os grandes clubes do futebol brasileiro traçaram uma estratégia:

  • Usaríamos o calendário quadrienal para criar um laboratório com as ligas regionais;
  • Como o rebaixamento era de 4 clubes e apenas 2 clubes subiam da 2ª divisão, em 3 anos chegaríamos a 20 clubes na primeira divisão;
  • Aí poderíamos estudar a extinção das ligas regionais e criaríamos a liga nacional com o campeonato brasileiro de pontos corridos;
Em 2002 fui eleito Presidente da liga Sul Minas e isto foi motivo de orgulho, uma vez que  considerava um reconhecimento, especialmente pela postura que o Internacional havia adotado nos dois anos que dirigimos o clube.

Executei exatamente o que combinei. Como faço sempre.
No final do ano a Rede Globo e a CBF resolveram "mudar tudo". As ligas regionais seriam extintas e o campeonato brasileiro passaria a ser disputado no regime de pontos corridos, mesmo com 24 clubes.

Pelo Clube dos 13 passaria o mesmo valor do ano anterior no contrato de televisionamento, acrescido de parte dos valores que eram pagos às Ligas Regionais. Claro que se alguma comissão era paga em função da receita do Clube dos 13, esta cresceria...

Os clubes me orientaram a brigar pelos contratos de televisionamento. Foi o que fiz. A meio caminho, o Internacional "roeu a corda". Claro que isto não me surpreendeu.

Naquele momento, o Clube dos 13, liderado por Fábio Koff, estava alinhadíssimo com a Rede Globo e com a CBF.

Hoje assisto alguns discursos patéticos, falando da importância da unidade dos clubes.

Porém, naquele momento, me parece que os interesses eram outros...

Acabei me afastando do futebol, mas de cabeça erguida e com a certeza de ter feito exatamente o que combinara. Isto... NÃO TEM PREÇO.

Quando vejo as posturas de alguns dirigentes, hoje, não posso deixar de admirar a posição do Alexandre Kalil, do Atlético-MG. Ele continua dizendo exatamente as mesmas coisas. Alguns "viraram casaca" e estão ao seu lado. Mas ele continua sendo coerente e defendendo os interesses de seu clube.

Fernando Miranda

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Posição da "CASAMATA"

Se a diferença entre quem ganha e quem perde é cada vez menor e o futebol é decidido nos detalhes, sempre achei muito estranho que a posição de nossa  casamata fosse no meio do campo.

Sim. O nosso banco de reservas e da comissão técnica não foi sempre no local atual.

Provavelmente em função do traçado do "túnel" que leva do vestiário ao gramado do Beira-Rio, foi feita a opção, quando da construção, de manter a casamata no meio do campo.
Além disto havia o argumento do treinador assistir o jogo com "simetria"...
No início era ainda pior. O adversário tinha a mesma "simetria" e ficava do outro lado do gramado.

A questão era a posição em relação ao bandeirinha.
Não que imaginasse resolver todos os problemas posicionando nosso "banco" atrás do bandeirinha.
Mas é evidente que uma maior "proximidade" com a arbitragem permite, no mínimo, uma...digamos...comunicação mais efetiva.

Por isto, assim que foi possível, deslocamos o nosso "banco" mais para a direita, posicionando-o na linha do impedimento como acontece em 99% dos estádios onde é esta a posição dos reservas e comissão técnica da equipe dona da casa.

Fernando Miranda

segunda-feira, 18 de abril de 2011

SÓ ENXERGA QUEM QUER VER

Este é o segundo Boletim Informativo produzido pelo Inter 2000 em 1997.
Teríamos uma eleição presidencial no final do ano e no ano seguinte a renovação do último "terço" do Conselho Deliberativo, no qual ainda não tínhamos maioria.


Este boletim foi produzido quando discutíamos a situação administrativa e financeira do clube.
Esta discussão nunca havia sido feita com aquela profundidade que estávamos provocando.
E a situação nunca deve ter sido tão delicada.
Foi nomeada uma comissão para estudar as questões administrativas e financeiras, da qual fiz parte e falarei mais adiante.


O "SÓ ENXERGA QUEM QUER VER"  era uma tentativa de chamar a atenção da comunidade colorada para a gravidade da situação em que estávamos metidos.


Aí vai o boletim...


CAPA
PÁGINA 2 - Manifestação do InterAção através de texto do Eduardo Lacher e Editorial do Inter 2000
PÁGINA 3 - Entrevista com meu inesquecível amigo Amaury Silveira, falando das mudanças e do que acontecia no clube naquele momento; Manifestação de alguns conselheiros.
Página 4 - Entrevista com os Atletas Christian e Anderson que viviam um ótimo momento dentro do campo, graças à estrutura montada no Departamento de Futebol, apesar da situação caótica em outros setores do clube. É... isto pode acontecer sim...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

GANHAR E SABER POR QUÊ II


Na postagem do dia 11 de abril, coloquei a capa do "Boletim informativo nº 1" do Inter 2000.

Tenho duas edições do tal "boletim informativo". Acho que foi o que conseguimos fazer e distribuir aos sócios naquela época (1997).

Era uma publicação de 4 páginas. Depois de publicar a capa (Dia 11) reli o Boletim na íntegra e achei interessante e ilustrativo publicar o restante. Então, aí vai...

CAPA


Página 2 - Com o espaço que abríamos para alguns conselheiros de situação e oposição e especialmente o "editorial" que ajuda a contextualizar o material.


Página 3 – Falo sobre minha participação, e do Márcio, no Departamento de Futebol em 96/97 e sobre o que imaginávamos para o futebol. Confesso que fico orgulhoso da coerência com que sempre tratamos este assunto e com a atualidade de tudo isto quase 15 anos depois.



Página 4 – Entrevista com o goleiro André, que é um grande profissional e hoje trabalha na comissão técnica e com o Valdomiro que dispensa apresentação.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Eros Peres


Toda vez que alguém quer lembrar algum "erro" de contratação da gestão 2000/2001, fala no Eros Peres. Imagino que jamais pensaram que faria um tópico dedicado a este atleta...
Mas me divirto muito com isto.
Quando trouxemos o Eros Peres tínhamos enorme dificuldade financeira e precisávamos de um lateral esquerdo.
O Denis havia machucado, tínhamos algumas apostas no grupo como o Wederson que joga até hoje na Europa.
Analisamos (ou analisei...) com o Parreira as alternativas do mercado e o Eros Peres era viável.
Havia jogado na seleção chilena e era um jogador que poderia nos ajudar.
Lamentavelmente ele teve uma fratura de stress e acabou jogando muito poucas vezes.
Não posso reclamar de sua dedicação e tentativa de recuperação.
Além disto, era um atleta de postura diferenciada, ótima formação e um líder positivo.
Até poucos anos o Eros Peres jogava a Libertadores da América por equipes chilenas e jogou em Porto Alegre mais de uma vez.
Mas o que fica para a história é a versão... Lembro de um líder da atual oposição ("colega" de diretoria em 2000/2001) que buscava eleger-se em um dos episódios eleitorais posteriores que foi questionado sobre a "contratação" do Eros Peres. Respondeu que desta contratação não havia participado.
Isto também me divertiu muito. Ele não participou desta e de nenhuma outra contratação. Embora tenha atrapalhado em pelo menos uma tentativa de "participar" sem autorização.
A grande crítica que sofria o Eros Peres era sua altura. Realmente era um jogador baixo. Mesmo para lateral. A oposição batia muito nisto. Quando assumiu fez uma grande e recuperadora contratação para a posição...Trouxe o Cássio que provavelmente era menor que o Eros Peres...

 

Fernando Miranda

segunda-feira, 11 de abril de 2011

GANHAR E SABER POR QUÊ


Em 1996 e início de 1997 eu e o Márcio Abreu integramos o Departamento de Futebol.

Em março de 1997 afastamo-nos, em função da falta de convicção no trabalho que defendíamos.
Como temia que a comissão técnica fosse "desintegrada" perante o primeiro mal resultado, como sempre acontecia (e continua acontecendo...), enviei o documento que reproduzo abaixo para todos os conselheiros logo após nossa saída (minha e do Márcio).

Algumas semanas mais tarde, perdemos um jogo em Veranópolis. E depois de muito refletir, o Presidente Zachia disse que iria "mudar, não mudando". Vencemos o campeonato gaúcho e fizemos ótima campanha no campeonato brasileiro.
Acho muita graça quando assisto, hoje, integrantes do Departamento de Futebol dizendo que precisam contratar uma comissão técnica permanente para que o clube não perca a memória...
Isto é primário. E a informática, o planejamento, o banco de dados, os procedimentos precisam ser do clube. E não dos profissionais. Em 1997 tivemos uma boa amostra disto e, tenho certeza, que em 2000/2001 avançamos muito nesta direção.


Nesta semana o clube resolveu "mudar, mudando". Então tá.
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Carta enviada ao CD, após saída do Departamento de Futebol em março de 1997:
Está amarelada... depois disto muita coisa aconteceu... Fomos duas vezes campeões da américa, campeões do mundo... mas não perdeu atualidade...





Capa de Boletim Informativo do Inter 2000, distribuído aos sócios no segundo semestre de 1997, com frase fundamental para a instituição: "GANHAR E SABER POR QUÊ":

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Parreira


Contratação
Sempre que tive responsabilidade ou participação na contratação de um treinador para o Internacional, pensei no Parreira como uma das primeiras opções. A razão para isto sempre foi o que ele representou para a idéia de trabalho interdisciplinar no futebol.
Conheci o Parreira em 1996, quando jogávamos o campeonato brasileiro e o Claudio Dienstmann nos colocou em contato com ele. Eu e o Fernando Carvalho viajamos ao Rio numa sexta-feira para conhecê-lo.
Lembro que jogaríamos no domingo no Rio e eu viajaria no sábado. Durante a tarde de sexta-feira precisei ligar para minha esposa e pedir que preparasse minha mala e me desculpasse por não podermos jantar juntos, como havíamos combinado. O que ela me disse, no caminho para o aeroporto, resume o que pensava, já naquela época a respeito do Parreira, dito por alguém que me conhece bem: "... só vou te perdoar, porque sei o que o Parreira representa para tua concepção de futebol...".
Em 2000 o Parreira trabalhava no Fluminense. Mas em 2001 consegui trazê-lo para Porto Alegre. Fiz 3 viagens ao Rio. Na primeira, nunca vou esquecer, que quando o taxi estacionou em frente à casa dele, meu telefone tocou. Era meu amigo Amaury Silveira. Com a gentileza, educação e amizade que o caracterizava me disse, com todo o cuidado, que não queria interferir, mas que se eu quisesse o telefone do Parreira ele tinha para me fornecer, uma vez que talvez buscássemos um treinador que nos desse respaldo para trabalhar durante o campeonato brasileiro. Expliquei para ele que estava no Rio, na frente da casa do Parreira e que faria todo esforço para levá-lo para Porto Alegre, mas que estava fazendo isto em segredo pois esta informação não poderia vazar. Ele não comentou com ninguém. Só depois da contratação que rimos muito da situação.
Na segunda viagem, o Medina foi comigo, onde falamos um pouco mais sobre procedimentos a serem adotados e explicamos o que estávamos fazendo no Internacional.
A terceira viagem foi num sábado e precisávamos fechar a negociação. Saí cedo de Porto Alegre e voltaria à tarde, pois tínhamos jogo no domingo. A negociação não foi longa. O Parreira me disse que queria apostar no que estávamos fazendo e, para meu orgulho, contou que tinha conversado com o Zé Mário. E sabia que todo o combinado seria exatamente o que aconteceria. Jamais conseguiria contratá-lo se a questão financeira estivesse à frente na negociação.
Lembro que quando voltava para o aeroporto, recebi o telefonema de um repórter dizendo terá informação de que eu havia viajado para contratar um treinador. Apesar de desconversar, ele perguntou onde eu estava... Não podia dizer. Mas também não queria mentir. Então disse que estava no litoral, voltando para Porto Alegre. Como estava no Rio de Janeiro e pegaria o vôo em minutos... não menti...

 
Assinatura do contrato
Alguns dias depois o Parreira chegou à Porto Alegre e foi direto para o gabinete da Presidência, onde assinamos o contrato nos termos combinados e efetuamos o pagamento das "luvas" ajustadas, para depois disto ele ser anunciado como nosso treinador.
Isto sempre me pareceu uma obviedade. Mas no futebol não é. Ouvi, diversas vezes, o Parreira dizer publicamente que foi o único clube, durante sua carreira, que procedeu assim.

 
Comprometimento
O comprometimento do Parreira com o clube e com o trabalho foi algo marcante. Poucas vezes ele saia de Porto Alegre para o Rio de Janeiro onde estava sua família. Era sempre o primeiro a chegar aos treinamentos e estava sempre disponível para o que precisássemos. Fôsse para falar da equipe principal ou para um seminário com os profissionais das equipes de base. Sempre tratando todos com educação e igualdade.
Quando acertamos sua contratação, ele me falou de um compromisso que tinha na europa, se estou lembrado na FIFA. Eu sabia deste compromisso e havia, antes da contratação liberado para que ele pudesse participar. Algumas semanas antes ele cancelou sua ida em função da importância do momento para a equipe no campeonato brasileiro.

 
Equipe de trabalho
Conseguimos integrar os profissionais de todas as categorias com a equipe profissional naqueles meses.
Com o Parreira vieram o Moraci Santana e o Jairo Leal.
Com ambos fiz um ótimo relacionamento e até hoje quando o Moraci vem a Porto Alegre faz contato para nos encontrarmos.
O Jairo é, também um profissional fantástico. Profundo conhecedor do futebol, discreto e extremamente LEAL ao Parreira. Passamos algumas tardes de sábado assistindo jogos do campeonato brasileiro e aprendi muito com o Jairo que respira futebol.
Não tenho dúvidas que, caso o Jairo decida um dia ser treinador, terá grande sucesso.
 
Grande momento
Foram muitos os momentos e jogos marcantes. A postura do Parreira, comandando o grupo sem precisar fazer espetáculo à beira do campo ou gritar o tempo todo caracteriza o tipo de liderança que ele exerce e que coincide com o que acredito ser o mais produtivo.
Porém, se puder escolher um momento, que expresse o que aconteceu naqueles meses, não tenho dúvida de citar o nosso último encontro com o grupo de atletas.
Havíamos perdido a classificação em Belo Horizonte. Fícamos na 9ª posição e classificavam 8 clubes. O compromisso do Parreira conosco terminava ali. Informamos aos jogadores que deveriam se reapresentar em determinado dia da semana seguinte para ajustarmos os procedimentos de encerramento do ano.
O Pareira me pediu para estar presente neste dia. Falei, agradeci aos atletas o empenho, informei que eles deveriam comparecer na tesouraria para receber as férias e informamos a data da reapresentação no ano seguinte, já com nova diretoria. Ele (Parreira) pediu para falar e quando começou a dizer o quanto aqueles meses foram importantes e o quanto acreditava no que fizemos, emocionou-se de tal forma que teve dificuldade de concluir o que dizia.
Tive, naquele momento a certeza de que o Internacional não significou apenas "mais um trabalho" para o Parreira.

 
Conclusão
O Parreira por sua competência, sua história e sua postura foi muito importante para que tivéssemos tranquilidade no encerramento do mandato, apesar da oposição convocar o Conselho Deliberativo, antes do início do campeonato, dizendo que levaríamos o Internacional para a segunda divisão.
Lamento, apenas, que um profissional com sua experiência não tenha sido procurado nem mesmo para dar sua leitura e avaliação dos atletas e do rabalho desenvolvido até aquele momento pela direção que assumia. Talvez porque imaginassem que recebiam o vestiário "vazio".

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cláudio Duarte


1978
  • Nunca havia perdido um campeonato gaúcho como o de 1977. Aquilo foi "traumatizante". Queria muito voltar a ganhá-lo;
  • Podíamos ter vencido a competição mais facilmente. No Gre-Nal do Beira-Rio vencíamos 2x0, 2 gols do Adilson. "Eles" empataram o jogo!!! E tivemos muitos problemas para a final que seria no Olímpico;
    • Até hoje lembro de alguns atletas que souberam se impor, especialmente com o André Catimba, que era tido como grande "brigão". Falo especificamente do André Luis e do Larry. Eles faziam dentro do campo o que eu tinha vontade de fazer...
  • Jogamos a final com Bagatini, Hermes, João Carlos, Beliato e Tabajara; Caçapava, Batista, Falcão, Jair, Valdomiro, Adilson ... Vencemos 2x1. Dois gols do Valdomiro. Lembro o local da cadeira que estava sentado assistindo o jogo com meu amigo Leonel;
  • Nosso treinador era o Claudião
1981
  • Já falei no campeonato daquele ano. Como disse, só não fui no jogo de São Borja. Acreditam que tenho os ingressos guardados até hoje?
  • Nosso Presidente era o Asmuz, mais uma razão para que eu estivesse extremamente mobilizado;
  • Vencemos o último jogo no olímpico. De novo!! Gol do Silvinho. Passe do Silvio Hickmann;
  • Nosso treinador era o Claudião;
Líder do grande time
  • Dizem que o Cláudio era o grande líder do nosso time em 75/76;
  • Estou entre aqueles que acreditam que não é necessário desmerecer alguém para elogiar outro;
  • Mas quando em 2001, convivi com o Cláudio conheci suas virtudes e tive certeza da importância que ele deve ter tido naquele grupo;
Contratação
  • Na última postagem, falei da saída do Zé Mário. Na sequência, precisávamos alguém para finalizar o campeonato gaúcho, que teríamos muita dificuldade de vencer;
  • Procuramos o Cláudio e propusemos um contrato até o final do campeonato;
  • Ele topou. Não conseguimos reverter a situação. Evidente que a responsabilidade foi minha, e se alguém não teve culpa naquela situação, esta pessoa foi o Cláudio. Mas também foi muito importante naquele momento contarmos com alguém como o Cláudião;
  • Seu domínio de vestiário, sua relação com todos, sua postura foram uma lição importante;
  • A compreensão de que o time que entrava em campo era consequência da relação que tínhamos com quem limpava o vestiário, com os roupeiros, enfim... com todos, fechou exatamente com o que acredito;
  • A imagem que muitos carregam do Cláudio é de um "bombeiro", que é chamado apenas para apagar o incêndio. Isto está ERRADO!;
  • Embora saiba que sua passagem na nossa gestão resultou em situação parecida com esta, fiquei com a certeza de que o Cláudio pode fazer um trabalho de longo prazo, sem nenhum problema;
  • Sua preocupação com os aspectos táticos da equipe foi uma agradável surpresa;
Historinha pitoresca (e engraçada)
  • Durante o período que o Claudio estava trabalhando conosco, uma pessoa se aproximou (nem sei como...) oferecendo sua "consultoria" através do horóscopo (!);
  • Esta não era uma das disciplinas que imaginava integara à equipe multi-disciplinar;
  • Evidente que apesar de engraçado, o assunto passou a causar algum constrangimento;
  • De vez em quando o pessoal do Departamento de Futebol comentava o assunto e reclamava. Mas quando eu me oferecia para "resolver o problema", todos pediam para que eu "deixa-se assim" por temer como eu faria para solucionar...
  • Após a vinda do Parreira, o Cláudio me visitou diversas vezes e, num delas, me levou os relatórios da "consultoria" que pretendia escalar nosso time e rimos muito disto;
Conclusão
  • Nunca esqueci uma declaração dele, após o término de nossa gestão:
    • Havíamos saído e ele não teria nada a ganhar nos eleogiando;
    • Os desgastes políticos indicavam que não era "aconselhável" elogiar nossa gestão;
    • E ele não pensou duas vezes em dizer que havia sido treinador do clube muitas vezes, mas pela primeira vez percebeu o clube estruturado para fazer o treinador preocupar-se apenas com a equipe, pois havíamos criado um sistema de gestão que permitia isto;
  • Conviver com ele e conhecê-lo fez com que aumentasse a minha admiração pelo ídolo de minha juventude;
  • Já disse para ele, e repito aqui, que tenho muito orgulho de poder dizer ser seu amigo.


Fernando Miranda

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Zé Mário


Durante os anos que antecederam nossa vitória nas eleições e nossa posse, muitos foram os preparativos.
Sabia bem o que queria fazer no clube. Especialmente no futebol.
O Medina estava no mundo árabe e trocávamos e-mails quase diariamente preparando ações.
Entre estas ações estava nossa preocupação com a contratação do treinador.
Sabíamos que não seríamos um "clube para um treinador". E que precisávamos de um profissional que nos permitisse avançar na integração de diversas disciplinas, que seria o diferencial de nosso trabalho.
O treinador precisava ter perfil e formação que pemitisse um trabalho em equipe. Diferente daquele profissional para quem o clube entrega a chave do vestiário.
Pouco nos importava se este profissional seria gaúcho, ou de fora do estado. Alto ou baixo...
Precisávamos, também, alguém de diálogo com quem conseguíssemos começar uma integração técnica com as categorias de base.
Com o intuito de garantir o trabalho em equipe, integrar disciplinas, formatar um Departamento de Futebol com esta filosofia e, com isto obrter o máximo rendimento do grupo que nossa condição financeira permitisse, montamos uma matriz de análise dos profissionais com quem conversaríamos.
Foram em torno de 10 entrevistas. Como o Medina estava fora do País, fazia a entrevista e discutíamos por e-mail ou telefone. Ele também entrevistou alguns profissionais por lá, utilizando o mesmo critério.
Um dos treinadores com quem convesei foi o Ivo Wortmann, quem me colocou em contato com o Zé Mário, de quem tínhamos referências, mas com quem não conseguíamos contato.
Telefonei para ele, enviei uma passagem e conversamos durante quase uma tarde. Até hoje fico muito satisfeito quando escuto o Zé Mário dizer que foi a primeira vez em sua carreira que antes de falar em salário conseguiu discutir metodologia.
Ao final da tarde, ele voltou para o Rio de Janeiro. Após analisar a nossa conversa, obedecendo ao critério pré-estabelecido, percebi que estava diante do profissional que procurávamos.
O Zé Mário foi fundamental para a estabilidade que precisávamos no vestiário. Além de ser um grande profissional e um excelente caráter, mostrou personalidade e uma grande habilidade no relacionamento interpessoal. Qualidades fundamentais, para um treinador, na minha opinião.
Os primeiros meses foram bastante difíceis. A resistência começava no fato das pessoas não conhecerem o Zé Mário como treinador.
Tivemos grande integração desde as primeiras reuniões, passando a pré-temporada e nas dificuldades que se apresentaram na copa Sul Minas e no primeiro turno do campeonato gaúcho. Muitos queriam a troca do treinador, já jos primeiros meses. Mas sabíamos que estávamos começando um trabalho e que este etava sendo muito bem conduzido.
O segundo turno do campeonato gaúcho, na minha visão, nos deu maior segurança e alavancou a campanha do campeonato brasileiro.
São muitas as passagens que tivemos durante aquela intensa convivência. Talvez não lembre todas agora. Mas irei contando quando relato outros fatos e cito a participação do Zé. Conto, para isto, com a ajuda daqueles que viveram estes momentos.
A importância do Zé Mário no desenvolvimento de alguns atletas foi enorme. Ele foi fundamental, por exemplo, na afirmação do Lúcio e no lançamento do Fábio Rockembach.
Junto com o Zé Mário veio o Manoel dos Santos para o setor físico. Eles não se conheciam. O Manoel também foi importante naquele início difícil.
Mas foi no campeontato brasileiro em 2000 que tivemos os momentos mais importantes e as maiores alegrias. Nosso primeiro jogo "fora de casa" foi com o Botafogo. Toda a pressão externa, os acontecimentos do primeiro semestre e, especialmente, o que acontecera no campeonato brasileiro anterior (quando quase fomos rebaixados) faziam que eu me preocupasse muito com a campanha no brasileirão. Especialmente temia "fazer feio" comandando nosso time, Brasil a fora.
Ganhamos do Botafogo 1x0. Gol do Juca. Uma escolha pessoal do Zé Mário entre os atletas que jogaram a Copa São Paulo daquele ano. O Juca era reserva e chamou a atenção do Zé Mário, e pediu sua integração.
Vejam o tópico sobre o jogo no qual vencemos o Atlético-PR onde falo da forma que o Zé conduziu a orientação à equipe naquele intervalo.
Nos últimos jogos o Zé Mário estava suspenso. O Leandro Machado e o Guto Ferreira se revezaram para ficar à beira do gramado e repassar ao grupo suas orientações.
A suspensão ocorreu em função de uma expulsão no jogo com o Gama em Brasília. Foi um jogo inesquecível pelas circunstâncias e que marcou a estréia do Fábio Rockembach no grupo profissional. Não posso deixar de fazer um tópico sobre este jogo, que além de ter sido um divisor de águas, me oportunizou a grande amizade do Luis Henrique Oliveira, um coloradaço que mora em Brasília e hoje é conselheiro do clube.
A forma que terminamos o ano 2000, no futebol, transformou o Zé Mário numa unanimidade. Há um jornalisata que o comparava ao Ênio Andrade.
Passados alguns meses, do pior período de nossa gestão - em função das dificuldades financeiras -, a pressão contra o Zé Mário voltou. Naquele momento eu estava esgotado físicamente e com sérias dúvidas sobre o que poderíamos fazer para, pelo menos, manter um padrão razoável na nossa equipe. E nosso time era a "cara das dúvidas do Presidente". Evidentemente, eu era o responsável por não termos um bom rendimento.
Se por um lado tínhamos problemas ainda não resolvidos, por outro eu estava levando para dentro do vestiário, mesmo que de forma "não-verbal", esta preocupação.
Entre as "pressões" exercidas não esqueço algumas situações, que longe de serem decisivas - pela pouca significância de quem as exercia -, mas expressava bem o quanto era frágil a "parceria" de alguns que se aproximavam quando as coisas andavam bem, mas com quem não poderíamos contar nos momentos de dificuldade. "Conselheiros do Inter 2000" chegaram a pregar a demissão do treinador publicamente.
A soma das pressões tornou insustentável a possibilidade de darmos continuidade no trabalho com o Zé Mário.
Acertamos o pagamento da rescisão em 7 parcelas!!!
Perdi o treinador. Mas ganhei uma amizade da qual me orgulho. Apesar de não termos contato frequente, sempre que falamos me emociono lembrando o que fizemos.
Vou relatar a venda do Fábio Rockembach mais adiante. Mas cabe dizer aqui que quando fechei o negócio, em Paris, enre as poucas pessoas que escolhi para ligar, estava o Zé Mário a quem agradeci e informei que não precisaria mais dos 4 ou 5 meses que faltavam para quitar sua rescisão.
Há muito tempo o Zé Mário mantém o site: www.zemario.com.br


Fernando Miranda

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A música da campanha 1999

Depois de tantos anos, chegamos ao final de 1999 e íamos disputar a eleição para dirigir o Inter em 2000.
Foram muitos os preparativos.

Mas o que jamais esquecerei foi a música abaixo, escrita pelo Fábio Bernardi e gravada pelo Armandinho.
A precisão com que o Fábio expressou o que queríamos e o carinho com que o Armandinho tratou a gravação foram marcantes.

Até hoje me emociono quando escuto esta música e me orgulho do caminho que foi trilhado.

Escutem.
Baixem a música.
Entendam um pouco mais o que foi feito e, quem sabe, sintam-se tocados por ela.


Fernando Miranda
Inter 2000



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