sexta-feira, 25 de março de 2011

Dunga

No Campeonato Gaúcho de 1981 só não estive em um jogo.
Em São Borja, onde ganhamos 1x0, gol do Cléo.
Estive em todos os outros. Desde o primeiro, em São Gabriel, estréia do Nilson Dias...


Naquele ano, a preliminar era jogada pelas equipes da categoria "junior" (se estou mostrando que tenho memória, confesso não lembrar se era assim que chamávamos esta categoria naquela época).
O Internacional tinha um jogador que fez gol em TODOS os jogos preliminares naquele ano. Era o Dunga.
Ali aprendi a respeitá-lo como jogador e tinha certeza de estar diante de um atleta promissor.


Fiquei muito decepcionado quando o Dunga foi vendido.
Um antigo dirigente dizia que ele era "coxa-colada".
Eu não entendia como não valorizávamos aquele atleta.


Quando o Dunga foi campeão do mundo, recebi diversos telefonemas de pessoas que lembravam de minha posição quando ele foi vendido.


Em 1999 o Dunga foi "re-contratado" pelo Internacional.
Estávamos trabalhando desde 1993 para assumir o Internacional no final de 1999.
Não sei como funciona hoje, caso a oposição queira conhecer, por exemplo, o contrato de um profissional.
Mas naquela época era uma GUERRA. E entre as diversas informações que queríamos estava o contrato do Dunga.


Como muitas outras informações, só conhecemos o contrato após a posse.


Independente de nossa avaliação das condições técnicas e físicas do atleta, não podíamos pagar os valores contratados que, além de tudo, sofriam um acréscimo a partir de 2000.


Na primeira reunião de diretoria, na condição de Vice-Presidente de Futebol, disse que a maior contratação que queria era a condição de resolver a situação do Dunga.


Em conversa com o jogador, ele me pediu para participar da pré-temporada, pois seu procurador viria da Itália para acertarmos sua rescisão logo após a pré-temporada.


Nosso primeiro amistoso foi em Florianópolis contra o Figueirense.
Perdemos 3x0 e o Dunga nem ficou no banco.


Na primeira partida em Porto Alegre jogamos com o América MG.
Perdemos 1x0 e o Dunga entrou no final do jogo.
Gesticulou muito com os companheiros e apesar de ter cobrado uma falta que o árbitro sinalizara como tiro livre indireto, direto para as redes (evidente que o gol não foi validado), saiu de campo como herói.


Lembro que desci para o vestiário após o jogo muito irritado com o comportamento dele, mas repetindo para mim que não iria falar nada de cabeça quente.
No momento da oração ele disse aos companheiros que não tinha ninguém, ali, com condição de cobrar devidamente o desempenho dos jogadores (ele foi mais grosseiro que isto, mas não vou reproduzir...).
Não acreditei que tivesse ouvido aquilo.
Para minha sorte e da possibilidade de controlar o vestiário, ele repetiu o que havia dito.


A atitude que tomei naquele momento foi impulsiva.
Mas em algumas situações, ter o "pavio curto" tem suas vantagens.
Tenho certeza que, naquele momento, o Dunga me proporcionou mostrar que nosso vestiário tinha comandante. E este episódio me aproximou muito dos demais jogadores.


Várias semanas (talvez alguns meses) depois e...  nada do empresário...


Nossa diretoria conseguiu os recursos para rescindir o contrato e seguirmos em frente.


Acredito que estávamos certos na avaliação do atleta, naquele momento. Afinal não tenho notícias de que ele tenha jogado por outra equipe profissional depois disto. Talvez ele já fosse o grande treinador que é hoje, e ainda não soubesse.


Evidentemente esta situação gerou um conflito entre o Miranda e o Dunga. Foi uma ironia eu ter um conflito com um ídolo. Mas tenho certeza que defendia o interesse do clube. Aliás, se houve um conflito ou negociação entre o Miranda (Vice-Presidente de Futebol) e o Dunga, todos podem ter certeza que nesta negociação quem defendeu os interesses do Internacional fui eu e não o Dunga.


Fernando Miranda



13 comentários:

  1. Miranda, tenho enorme respeito por ti, mas a dispensa do Dunga pegou o torcedor MUITO de surpresa. Pareceu um enorme pé-na-bunda, uma descortesia, no mínimo.

    Sabe aquele coisa de "o gato subiu no telhado"? Pois é, se houvesse alguma preparação, a imagem de todos ficaria mais preservada.

    De qquer maneira, explicaste muito bem a coisa. para mim, ficou claro e explicado.

    Grande abraço.

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  2. Miranda
    Me chamo Eduardo Conte e sou filho do Luiz Carlos Conte (conselheiro e apoiador do teu movimento desde o começo.
    Lembro-me que, no auge dos meus tenros 18 anos, no dia que ganhamos a eleição e derrubamos o Império Otomano no conselho, sentados em uma Pizzaria próxima ao Beira Rio, larguei a seguinte frase sob a mesa:
    - Tomara que o Miranda tenha coragem de rescindir com Dunga !
    Estava na mesa conosco o Perondi ,,, que ficou furioso comigo, dizendo que ele era um ídolo do Clube, etc ...
    Eu sustentei que ele era ex ... e um ex muuuuito caro !
    Lendo teu blog hj, me lembrei disso.
    Ainda bem que tu teve coragem.
    Parabéns pelo blog e por todos os sacrifícios daqueles sofridos anos.
    Aquilo foi o início de tudo.
    Abraço
    Eduardo Conte

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  3. Fizesteste muito bem em dispensar o Dunga. Me lembro do chororô dos colorados na época dizendo que estavam dispensando um ídolo que tirara o Inter da 2ª divisão. Acho que ele não fez mais do que a obrigação naquele gol salvador contra o Palmeiras, pois estava naquele grupo que levara o clube a aquela situação desesperadora no campéonato brasileiro. Depois disto não mereceu mesmo jogar mais pois estava em fim de carreira como jogador e deveria mesmo ser treinador.

    Abraços

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  4. O contrato do Dunga já é "mostrável"? Se fosse tornado público, talvez mais pessoas passassem a entender melhor algumas atitudes da tua gestão, que tentaram (não sei se é a palavra mais correta) moralizar algumas coisas no S.C. Internacional!

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  5. Toda torcida tem seus idolos e estes são importantes para a identificação desta com o clube. Quando o idolo está em unidade com a diretoria, interesses do clube e reconhece que estes são maiores do que sua história particular está tudo certo.
    Acredito que o Dunga neste momento deixou isso de lado, trazendo intrigas particulares e deixando a história do clube de lado. O Dunga foi um grande jogador, agora é um excelente treinador, é uma pessoa sensacional, mas o Internacional é muito maior do que isto.
    Naquele momento o presidente Miranda agiu de forma correta, e como bem explica no texto, com a atitude tomada segurou o vestiário e uniu os atletas, tivesse tido outra atitude, teria pertido o vestiário.

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  6. Olá, Fernando.

    Parabéns pela iniciativa. É muito legal poder conhecer a outra versão.

    Tendo lido teu relato, entendo que a gestão fez o que entendeu correto para o clube, mas jamais concordarei com a forma como se deu referida rescisão.

    Acho que foi um erro administrativo e plenamente desnecessária a exposição tanto do Dunga quanto do próprio clube.

    Tenha sido ou não benéfica administrativamente, a conduta foi desairosa para todos.

    Ainda assim, parabéns pela coragem!!

    Toni Kunzler Cheiran
    Camiseteiro Colorado

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  7. Toni:

    Eu poderia dizer que a citada exposição foi consequência de longa paciência que tivemos para tentar fazer com que a rescisão acontecesse de outra forma.

    Mas, depois de tantos anos, não estou tentando defender posições ou atitudes.
    Minha intenção é, apenas, relatar os fatos sob meu ponto de vista.
    Na época, justamente para evitar mais polêmica, deixei de contar algumas coisas que estou fazendo 11 anos depois no site do Inter2000.

    Tua visão coincide com a visão de muita gente e é bem possível que pudessemos fazer de FORMA melhor. Quanto ao conteúdo, acho que foi feito o que tinha que ser feito.

    Obrigado por acompanhar nosso site e pela forma educada que discordas.

    Fernando Miranda

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  8. Presidente

    nem poderia ser diferente a forma do debate.

    há anos defendo tua administração. Sangramos muito com o péssimo momento no futebol, mas ou fazíamos aquilo, ou nos tornaríamos um américa carioca.

    tens total razão em tua assertiva. Tuas reminiscências AINDA não devem ser discutidas em termos de certo ou errado, mas sim analisadas NO LONGO PRAZO.

    obrigado pela gentileza da resposta, e podes ter certeza que acompanharei todos os posts, enquanto estiveres disposto a compartilhar, de forma tão aberta, tua história no colorado.

    sds alvirrubras!

    Toni Kunzler Cheiran

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  9. Só para colaborar. Não houve pé na bunda. O Dunga quis fazer parecer como se tivesse ocorrido um pé na bunda. Eu participei de mais de 10 reuniões com o representante do empresário do Dunga em Porto Alegre (Mateo, representante do Caliendo).
    O posicionamento deles sempre foi irredutível: O Dunga quer o que o Inter lhe deve!
    Até um jogo de despedida eu blefei e nem isso ele queria.
    No final, o Dunga "doou" o valor da rescisão, em uma bela jogada de marketing. Sugiro, porém, que os mais curiosos procurem se informar sobre o que a entidade que recebeu a doação fez com o dinheiro e o resto dessa história...

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  10. Felipe:
    Fico feliz com teu comentário e por me ajudares a contar a história de 2000/2001 que vivestes intensamente e é parte importante da história do Inter2000.

    Grande abraço

    Fernando Miranda

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  11. Qual foi a entidade que ganhou a doação do dunga? Pode colocar o nome aqui?

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  12. Prezado senhor (ou senhora) Anônimo (a):

    Não tenho idéia de qual a entidade. Talvez o senhor (ou senhora) possa proceder uma pesquisa nos jornais da época se estiver interessado (a).

    Fernando Miranda

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