segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Inter e o futebol brasileiro em 2001

Em 2001 havia muita dúvida a respeito da continuidade do calendário do futebol brasileiro.
No final do ano foi divulgado o CALENDÁRIO QUADRIENAL que determinava como seria o funcionamento nos próximos 4 anos.
Teríamos, no primeiro semestre, os campeonatos regionais, e no segundo semestre o campeonato brasileiro.
Após 4 anos passaríamos a ter 20 clubes na primeira divisão. Pois a cada ano rebaixariam 4 clubes e subiriam 2.
Então, teríamos a LIGA NACIONAL e extinguiríamos as Ligas Regionais.
Vou falar mais sobre este assunto. Especialmente porque este assunto está na moda, e as posições das pessoas mudam muito facilmente. Especialmente porque não há muita memória. Ou porque algumas pessoas não querem ter memória. Outras não têm independência suficiente para ter memória.


Mas tenho muito orgulho da postura que adotei naquele período. Pessoalmente e em nome da instituição Sport Club Internacional.
A matéria abaixo foi publicada pela PLACAR em setembro.

Mas preciso contextualizar o momento que respondi.

Antes de iniciar o campeonato (Já falei nisto. Vou repetir algumas vezes. E farei um tópico só sobre este fato) o Conselho Deliberativo foi convocado por alguns líderes da então oposição, dizendo que eu levaria o Internacional para a segunda divisão.

Havíamos perdido os dois primeiros jogos. Juventude no Beira-Rio e Coritiba no Couto Pereira. Estávamos em Recife para jogar com o Santa Cruz.

Lembro que na manhã do jogo, o Presidente do Santa Cruz me ligou oferecendo um carro para que eu não precisasse ir para o  estádio de ônibus. Expliquei para ele que "estar" no futebol tinha muitos "ônus", mas se tinha algo que me motivava era poder estar perto do "nosso time", e dentro do nosso ônibus.

Antes da palestra, passei no meu quarto do hotel (para colocar minha camisa vermelha). E vi que tinha um e-mail do nosso assessor de imprensa Nico Noronha, fazendo esta pergunta em nome da revista Placar. A resposta foi curta porque queria marcar a posição fortemente (em nome do INTERNACIONAL) e pela confiança que tinha no trabalho que estávamos fazendo.
Acréscimo em 20/6/2011: Localizei cópia do e-mail...:



Evidente que aproveitei isto na palestra do Parreira, quando ele, como sempre fizemos, abriu espaço para que eu falasse.

Vencemos o jogo. E foi bastante marcante a reação dos jogadores comigo no vestiário após o jogo, inclusive oferecendo a vitória para mim, que vinha sendo muito criticado nas últimas semanas.



Acréscimo:
(20/6/2011): Localizei o e
Fernando Miranda

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A eleição para Presidente em 2000

Na noite em que ficou definido o afastamento definitivo do Dr. Jarbas Lima da presidência, pedi ao Dr. Amaury Silveira (Presidente do Conselho Deliberativo) que fizesse todo o possível para convocar a nova eleição para Presidente o mais rápido possível.
Estava cansado. Esgotado. A posição de Presidente interino é terrível. Você tem que tomar atitudes de longo prazo, mas não deve fazer algo que extrapole a interinidade...

Além da dificuldade natural de um interino  sofríamos com as dificuldades financeiras e com uma (até então) má campanha no campeonato brasileiro.
Cada jogo no Beira-Rio era um inferno. Descíamos da palestra para o vestiário e havia um carro de som na porta do vestiário criando um clima terrível.

Nosso próximo jogo seria dentro de 3 dias em Recife. Contra o Sport. O Sport era treinado pelo Leão e uma das melhores campanhas do brasileiro até aquele momento. A dúvida de todos era quanto seria o placar favoravelmente ao Sport.

Como a dúvida era  qual a diferença da eleição a favor do Fernando Carvalho.

Na noite seguinte ao afastamento do Dr. Jarbas, houve um churrasco do INTER GRANDE, no qual foi lança da a candidatura do Fernando Carvalho. Ouvi sua entrevista na qual disse que estava muito bem de saúde, fizera um check-up e que cumpriria seu mandato até o final.
Naquele momento,  decidi que concorreria.

Antes de viajarmos para Recife reuni os jogadores e disse que tinha duas notícias. Uma ruim e outra pior. A ruim era que iria atrasar o pagamento do salário que venceria na semana seguinte. A pior é que eu não sabia a data que poderíamos fazer o pagamento.
Os atletas foram bárbaros. O Carlinhos disse que confiava em mim, que este problema era meu e sabia que iria resolver, mas eles precisavam me ajudar com resultado dentro de campo. O Marcelo se propôs a fazer uma relação dos atletas que tinham menor remuneração e poderiam precisar de algo no curto prazo para que o clube resolvesse a situação...

Neste clima viajamos para Recife. Vencemos por 1x0. Gol do Leonardo Manzi.
No instante que terminou o jogo meu telefone tocou com uma ligação do meu amigo Amaury Silveira.

Após este jogo tivemos uma sequência incrível de bons resultados.
Que culminou com a desclassificação nas quartas de final no Mineirão contra o Cruzeiro num jogo que o resultado foi terrivelmente injusto.

No final a eleição não concorremos com Fernando Carvalho. Mas com o Emídio Perondi.

Até hoje há quem esqueça que houve uma eleição e que vencemos esta eleição. E venceríamos, naquele momento, quem concoresse conosco.


Fernando Miranda

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A "PARCERIA"

Quando assumimos o clube, em 2000, havia a febre das "parcerias".
Foi uma fase de transição econômica incrível, que associada a transição jurídica gerada pela Lei Pelé deixou o mercado do futebol completamente perturbado.

Não havia dia que não ouvissemos uma pergunta do tipo "...quando sai a parceria?...". Afinal outros grandes clubes já tinham a sua parceria e nós estávamos ficando para trás....

Se, por um lado a conversa parecia não ter começo-meio-e-fim, por outro era tentador aceitar alguém que colocasse alguns milhões no cofre do clube para CONTRATARMOS. Como se estas contratações fossem garantia de resultado no curto prazo ou estabilidade para o clube no longo prazo.

Contratamos a Fundação Getúlio Vargas para que nos acompanhasse nas diversas conversas que estávamos desenvolvendo e nos ajudasse na compreensão do negócio proposto.

Confesso que hoje tenho muito mais certeza da correção do rumo que tomamos naquela época do que tinha naquele momento. Era muita gente dizendo que "tínhamos" que fazer diferente...

A verdade é que os possíveis parceiros buscavam a participação na receita dos clubes num mercado que inevitavelmente estava em crescimento. Prova disto é o crescimento do volume de receita dos clubes nos anos seguintes.

Mas o pior era que os clubes criavam "bolhas de custo", sob sua responsabilidade. E, no momento que estes parceiros, por alguma razão, se afastassem os clubes não teriam a "mesada" e ficariam com um custo fixo (principalmente pela folha de pagamento) impagável.

Fernando Miranda

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Fita do Conselho Deliberativo

Os anos que antecederam nossa gestão foram difíceis.
O rompimento com a estrutura existente exigiu o enfrentamento de situações inacreditáveis.
O SUMIÇO da fita de determinada reunião do Conselho Deliberativo foi uma delas.
Hoje, até acho engraçado. Mas naquela época...

Ao ler esta matéria, não pude deixar de lembrar do meu grande e saudoso amigo Amaury Silveira.
Mais adiante vou escrever sobre ele. Neste episódio a grande preocupação dele era me proteger e evitar minha exposição. Naquela época eu realmente não aceitava. E acho que se acontecesse novamente, reagiria da mesma forma.

Evidente que situações como esta (e outras que irei relatar uma a uma) criaram, para mim, diversas áreas de atrito. Mas não imagino que conseguríamos romper com a forma que o clube era administrado se não enfrentássemos com determinação situações como esta, que por muitos era considerada "normal".

Aceitar situações como esta seria fazer o papel do INOCENTE ÚTIL. Aquele à quem não podemos culpar pelo que está acontecendo, mas que é útil na medida que acaba validando a prática de procedimentos inaceitáveis.

Tudo isto me valeu o rótulo de RADICAL. Na medida que ser radical signifique se aprofundar até alcançar a raíz das questões, sou obrigado a concordar.

 Fernando Miranda

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O novo estádio

Em 2001, em torno de setembro, recebi (como Presidente do clube) uma proposta para que o Internacional construísse um novo estádio.

Estudamos o primeiro contato e nos manifestamos dizendo que, como estávamos no final do mandato, nos limitaríamos a levar ao Conselho Deliberativo, desde que a proposta contemplasse dois pontos básicos:

  1. A Demolição do estádio Beira-Rio só teria início após a conclusão do novo estádio (a idéia era a construção na mesma área do Beira-Rio);
  2. A construção do novo estádio só teria início após a conclusão do centro de treinamento que seria projetado pelo clube e construído sem ônus para o Internacional.

Aceitas estas condições, pedi que os proponentes viessem à Porto Alegre apresentar à líderes do Conselho Deliberativo a proposta para que analisássemos a viabilidade de apresentação da proposta.

Convidei, na véspera, diversos líderes do Conselho para reunião no Beira-Rio, no dia seguinte 8:00h, para tratar de assunto de interesse do clube. Por questão estratégica não disse o assunto. E pedi que a reunião não tivesse divulgação.

Acredito que todos convidados foram à reunião.

Quando cheguei ao Beira-Rio a imprensa estava presente e me perguntavam se eu buscava um "acordo" para as eleição que se aproximava.

Feita a apresentação, fizemos uma entrevista coletiva para explicar a razão da reunião.

A primeira pergunta foi sobre a razão pela qual eu queria "destruir" o Beira-Rio.
Expliquei que a idéia era de construção e não de destruição...

As manifestações políticas que se seguiram, em minha leitura, inviabilizaram que o clube levasse adiante nas décadas seguintes aquele encaminhamento.
Mas tenho certeza que cumpri o meu dever na condição de Presidente.

Continuo acreditando que a necessidade dos dias de hoje de um estádio que gere receita o ano todo (e não apenas em dias de jogo) necessita a construção de um novo estádio.  Esta convicção está baseada em:
  • As alterações arquitetônicas necessárias, para este foco, são muito importantes e, certamente, implicariam em custo extraordinário para alterar uma estrutura que não foi concebida para este fim, há 50 anos!
  • As necessidades de manutenção da atual estrutura são consideráveis;
  • O clube não tem nenhuma obrigação ou necessidade de alinhar sua estratégia com a realização da Copa do Mundo.
  • A construção de um novo estádio pode trazer como ganho adicional a presença de um parceiro que administre a operação do estádio e a geração de receita para qual esta estrutura seria projetada, liberando o clube desta atividade que está longe de ser sua atividade fim. Para isto o Internacional jamais abriria mão de parcela considerável desta receita que seria muito maior do que a que existe hoje.
Fernando Miranda

Matéria da época enviada pelo meu amigo Tiago Issa

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Domínio internacional.com.br

Em 1998 o Internacional não percebia a importância da internet.
Prova disto é que em 2000, quando assumimos, o clube não tinha "e-mail".
Se precisássemos receber um e-mail, fornecíamos o endereço de um funcionário, que iria imprimí-lo em casa e entregar ao destinatário no dia seguinte.

Em 1998 percebemos que o clube não havia registrado o domínio internacional.com.br.
Em duas reuniões do Conselho Deliberativo falei no assunto, mas nada foi feito.
Então registrei, com a ajuda de meu amigo Nelson Campelo, o domínio em nome de minha empresa, como mostra o e-mail abaixo.
Mais tarde, transferi este registro para o Internacional.

O custo disto foi U$ 35,00!
Imagine o valor disto para o clube hoje.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Manifesto de lançamento Inter 2000

O Manifesto de Lançamento que fizemos em setembro de 1993 fala por si.
Sua adequação ao contexto que vivíamos e o que aconteceu nos anos seguintes são motivos para orgulhar quem participou disto.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

JARBAS LIMA


P3 – 11/2/2011


O Dr. Jarbas é uma daquelas pessoas com quem cruzei durante a vida e fizeram ter mais certeza da importância dos valores de retidão que aprendi com meu pai.
Desempenhou papel fundamental ao aceitar concorrer à presidência. Isto só ocorreu porque eu insisti muito uma vez que ele trabalhava para me eleger e queria que eu concorresse. Sobre o episódio do lançamento de sua candidatura falarei em outra (s) oportunidades pois há passagens memoráveis, especialmente a do regisro da nossa chapa.
A sua postura corretaíssima e de "magistrado" como pediam alguns luminares integrantes da (então) situação (muitos disfarçados de oposição) foram fundamentais para que o clube avançasse e começasse um processo histórico de mudança que, em minha opinião, foram de grande importância para a instituição.
Acredito que sem a contribuição do Dr. Jarbas, jamais teríamos a oportunidade de iniciar o processo que iniciamos em 2000/2001 de resgate da credibilidade, da capacidade de investimento e da identidade do clube.
Sua saída, por razão de saúde, antes do final de 2000 deu margem à muitas versões. Entre elas a de que havíamos (eu e ele) "brigado". Nunca esqueci a frustração de alguns defensores desta tese, alguns anos mais tarde, quando compareceu à votação de uma eleição para presidência do Conselho Deliberativo e do Conselho Fiscal, declarando para quem quisesse ouvir que lá estava porque eu havia pedido e que gostaria que acabassem com este boato que havíamos "brigado".
Sou muito agradecido ao Dr. Jarbas Lima. Na minha visão o Internacional também deveria ser.
Quando se fala do episódio da "fotografia do Miranda" na galeria de ex-presidentes, sempre digo que uma das condições para que isto aconteça é a presença da foto de todos os presidentes que me antecederam. E, até onde sei, falta a do Dr. Jarbas.
Apesar do curto tempo de convivência, aprendi muito com o Dr. Jarbas.
Escolhi um fax que enviei para ele em 27/junho/2000.
Éramos criticados por todos os lados. Muitas vezes de forma desrespeitosa. Mas mantínhamos sempre a linha que tínhamos combinado e era a única permitida por nossos princípios.
Na véspera, tivemos uma reunião do Conselho Deliberativo e um conselheiro (evitei de mostrar o nome para evitar polêmicas desnecessárias, e porquê REALMENTE é irrelevante) pediu a palavra e disse que nossa diretoria falava muito em ética e moral, mas no futebol a gente precisava "flexibilizar" este conceito. Naquele momento tive mais certeza da correção do caminho que estávamos trilhando.
Fernando Miranda

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Como Começou

1993 Primeiro semestre: Reunião do Conselho Deliberativo. Não tínhamos mais do que 60 conselheiros presentes. O clube vinha “murchando”.
A apatia do conselho era um claro sinal disto.
Não havia renovação nem participação. O clube era dirigido por abnegados, que dedicavam sua vida ao Internacional, mas que encontravam enormes dificuldades para os novos desafios.
O Presidente era José Asmuz, que tenho como grande amigo e que durante os momentos mais difíceis da minha gestão, foi o ex-presidente que me apoiou, confiou em mim e sobre quem falarei mais adiante.
Após a reunião fomos jantar. João Patrício Herrmann, Pedro Silber e Fernando Miranda.
Resolvemos que tentaríamos fazer algo para dar “vida” ao clube.
Nas semanas seguintes procuramos diversos conselheiros  e acabei encontrando nova motivação na tentativa de resgatar para a vida do clube algumas pessoas que guardavam incrível mágoa pela forma que foram tratados. Talvez volte a falar sobre isto mais adiante...
Entre as diversas ações que fizemos, coletamos  a assinatura de alguns colorados ilustres no manifesto de apoio que apresento em anexo.
A busca destas assinaturas teve lances bem interessantes e um bastante engraçado que relatarei oportunamente.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sobre o site Inter 2000

11 anos após concluir meu mandato como Presidente do Internacional resolvi usar esta ferramenta motivado, basicamente por dois aspectos:
1.       Registrar a história do Inter 2000 e dividir uma série de informações e documentos que guardo comigo;
2.       Mostrar que os princípios que nortearam a mobilização (que foi chamada Inter 2000) continuam vivos e sendo defendidos. Pelo menos por mim. Se o Inter 2000 nunca existiu “formalmente”, tudo aquilo que me mobilizou, influenciou e continua influenciando ações dentro do clube.
As postagens acontecerão nas segundas, quartas e sextas, contando uma história, uma curiosidade, apresentando um documento, ou simplesmente emitindo uma opinião, sem preocupação com ordem cronológica.
Caso você tenha alguma contribuição ou sugestão de assunto a ser abordado, não deixe de entrar em contato conosco.